Foi numa grande cidade
Na arta sorocabana
Num grande hotel de luxo
Num dia fim de semana
Chegou um pretinho sujo
Na pinta de pé de cana
Mas o porteiro invocado
Quis se fazer de bacana
Barrou o preto na porta
Com palavras de horror
Esse é um hotel de luxo
Não é lugar pro senhor
Hospedagem de grã-fino
Você é um pobre lavrador
Aqui não entra mendigo
Muito mais sendo de cor
O porteiro lhe enxotou
Com pesada gozação
Vai dando o fora depressa
Seu cara de assombração
Não temos vaga de emprego
Faxineiro e nem garçom
Aqui tem fogão a gás
Ninguém lida com tição
O preto sem dizer nada
A mão no borso enfiou
Tirando um talão de cheque
Encheu a folha e assinou
Chegando junto ao porteiro
Seu ordenado pagou
Olhou firme pro rapaz
E desse jeito falou
Seu porteirinho atrevido
Quero dizer de antemão
Você está despedido
Por não ter educação
Saiba que hoje bem cedo
Eu comprei este salão
Você está conversando
Com o seu novo patrão